29 de jul. de 2016

Um conto por dia: Catedral, por Geórgia Cavalcante




            Intitulado de Catedral, o conto nos faz relacionar a certos elementos que cercam essa palavra, tais como: religiosidade, centralidade, imponência de determinado sentimento e/ou estado de espírito e até mesmo o inverso.

             A medida que avançamos na leitura, percebemos elementos chaves que fazem o leitor "prever" seu desfecho, mas devido a boa escolha lexical as suposições tomam outro caminho. Cenário cinza e escuro, com uma personagem feminina que caminha envolta em atmosfera de mistério, há chuva, anotações na agenda, e por fim, um encontro... 

      O enredo do conto aborda um momento, que supomos importante, para a vida da personagem chamada Sofia. Entendemos no início que ela está bem (em termos de saúde), pois caminha a procura de uma igreja para um encontro que foi marcado sem lembrar com quem e porque. Após, nos deparamos com o cenário obscuro e abandonado, temos a seguinte descrição: 


"Caminhou até o altar e contemplou os utensílios abandonados: um turíbulo, uma taça amassada, restos de uma toalha bordada. Ficou ali, procurando algo que explicasse o encontro. Uma pista qualquer. De repente, um estampido alto e todo o seu copo começou a formigar. A boca encheu-se de sangue. A visão ficou turva. Buscou apoiar-se no banco mais próximo. Lascas de madeira penetraram a carne macia de suas mãos." 

          As ações seguintes são cheias de mistério e temor, quem foi? Por quê?  O que houve antes desse encontro? Por que aquele local abandonado e cheio de metáforas? 

      Uma pessoa aparece com algo nos braços, a pessoa é um homem que segura um bebê recém nascido morto nos braços. Sofia fica apavorada e confusa. Tomamos conhecimento que o homem culpa a mulher pelas suas escolhas e relata que a criança foi deixada pela mãe em uma lata suja; assim, entendemos que Sofia recentemente teve a criança. 

         A forma como é descrita as ações e falas do homem nos faz pensar que eles possuem alguma ligação; este pode ser até mesmo a representação do dever, do destino,...  por fim, não temos como afirmar que ele é o pai da criança. É alarmante o que o homem faz com as duas (detalhe: Sofia está super mal e a bebê está morta), amarrá-las no altar e sai:


"É assim que deve ser - pensou. Agora você irá se dedicar à criança. Depois que a raiva ceder, você se deixará envolver. São mãe e filha. Você ainda está tensa do parto solitário, talvez um pouco deprimida, mas eu cuidarei de vocês. Tudo se arrumará. É uma  questão de tempo."




A contista, além do seu talento, é blogueira, fotógrafa, professora, possui contos publicados na revista Pechisbeque. 



                 



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